O DHEA como terapia de reposição hormonal tem ganhado destaque nos últimos anos como uma alternativa complementar nas terapias. Especialmente em pessoas a partir dos 40 anos. Produzido naturalmente pelas glândulas suprarrenais, esse hormônio atua como precursor de outros hormônios importantes, como a testosterona e o estrogênio.
Com o envelhecimento, os níveis de DHEA caem significativamente, o que pode impactar a vitalidade, a força, a libido e o equilíbrio emocional.
Diante desse cenário, muitos profissionais da saúde passaram a considerar a suplementação de DHEA como parte de protocolos individualizados de reposição hormonal. Mas afinal, quais são os reais efeitos do DHEA no corpo? Ele é eficaz e seguro como terapia hormonal? É o que vamos explorar neste artigo.
A queda natural do DHEA com a idade
O DHEA é um dos hormônios mais abundantes no corpo humano durante a juventude, atingindo seu pico por volta dos 20 anos de idade. A partir daí, os níveis começam a cair progressivamente — e essa redução pode chegar a até 80% por volta dos 70 anos.
O gráfico abaixo ilustra essa queda gradual:

Essa diminuição está diretamente ligada a sintomas comuns do envelhecimento, como redução da energia, perda de massa muscular, baixa libido, alterações no humor e maior vulnerabilidade a doenças. Por isso, a queda dos níveis de DHEA é considerada um dos marcadores hormonais do envelhecimento.
A reposição de DHEA, quando indicada por um endocrinologista, pode ajudar a restaurar parte desse equilíbrio e contribuir para a qualidade de vida em fases mais avançadas da vida.
Como o DHEA atua como hormônio precursor
O DHEA é considerado um hormônio “base” ou precursor esteroide, porque participa da produção de outros hormônios essenciais para o bom funcionamento do corpo, como a testosterona, o estrogênio e a progesterona.
Quando produzido naturalmente ou suplementado, o DHEA entra em um ciclo bioquímico que permite sua conversão conforme a necessidade do organismo. Por exemplo:
- No corpo masculino, ele pode ser transformado em testosterona ou di-hidrotestosterona (DHT), hormônios relacionados à força muscular, libido e vitalidade.
- No corpo feminino, parte do DHEA é convertida em estrogênio, ajudando a manter o equilíbrio hormonal, o humor e a saúde óssea.

Essa característica de se adaptar às necessidades do corpo é o que faz o DHEA ser estudado como um possível modulador hormonal natural — o que o torna interessante em casos de reposição hormonal individualizada, especialmente para quem apresenta sintomas de queda hormonal, mas ainda não necessita de terapias mais agressivas com hormônios bioidênticos ou sintéticos.
Estudos e evidências: o que a ciência diz sobre o DHEA na reposição hormonal
Ao longo das últimas décadas, diversos estudos clínicos investigaram o papel do DHEA como terapia de reposição hormonal (TRH), especialmente em adultos com níveis naturalmente reduzidos desse hormônio.
Os resultados variam de acordo com o perfil dos participantes, mas alguns pontos se destacam:
- Em homens e mulheres com mais de 40 anos, a suplementação de DHEA demonstrou melhora na sensação de bem-estar, aumento da libido e ganho leve de massa magra, especialmente em indivíduos com deficiência hormonal comprovada.
- Em mulheres na pós-menopausa, estudos mostraram que o DHEA pode ajudar a melhorar o equilíbrio hormonal e reduzir sintomas como fadiga, ressecamento vaginal e instabilidade emocional — principalmente quando combinado com outras terapias.
- Já em homens mais velhos com hipogonadismo leve, o uso controlado de DHEA apresentou efeitos discretos no aumento dos níveis de testosterona total e livre, embora com resultados menos expressivos do que a reposição direta com testosterona.
Entretanto, vale destacar que os resultados não são homogêneos e ainda existem debates na comunidade científica sobre sua eficácia a longo prazo. Por isso, o uso do DHEA deve sempre ser baseado em avaliação clínica individual, exames hormonais e acompanhamento profissional.
Quando o DHEA pode ser indicado? Benefícios clínicos potenciais
O DHEA não é indicado para todos, mas DHEA como terapia de reposição hormonal pode ser uma opção viável dentro de uma abordagem individualizada, especialmente em casos de deficiência diagnosticada por exames laboratoriais. Seu uso deve sempre ser supervisionado por um endocrinologista ou médico especializado em hormonioterapia.
Entre os casos em que o DHEA pode ser considerado como parte da terapia, destacam-se:
- Homens com DHEA e testosterona naturalmente baixos, mas que ainda não necessitam de TRT (terapia de reposição com testosterona) direta
- Mulheres na perimenopausa ou pós-menopausa, que apresentam sintomas como cansaço extremo, perda de libido e secura vaginal
- Pessoas com fadiga adrenal leve, em que a produção de DHEA pelas glândulas suprarrenais está comprometida
- Pacientes com desequilíbrios hormonais leves, que buscam uma alternativa mais suave antes de terapias mais intensas
Os benefícios clínicos relatados incluem:
- Aumento da vitalidade física e mental
- Melhora da libido e função sexual
- Suporte à massa muscular e óssea
- Estabilização do humor e da cognição, especialmente em pessoas com baixa produção hormonal
É importante reforçar que os resultados variam de pessoa para pessoa e o DHEA não substitui outras formas de reposição quando há necessidade hormonal mais severa.
Riscos e efeitos colaterais: quando o DHEA pode ser um problema
Apesar de ser um hormônio natural do corpo, o DHEA como terapia de reposição hormonal não é isento de riscos quando utilizado sem o devido acompanhamento médico. O uso indiscriminado pode causar desequilíbrios hormonais, gerar efeitos colaterais indesejados e, em alguns casos, até agravar condições pré-existentes.
Entre os principais efeitos colaterais associados ao uso inadequado do DHEA, estão:
- Aumento de oleosidade da pele e surgimento de acne
- Queda de cabelo (em indivíduos geneticamente predispostos à calvície)
- Irritabilidade, alterações de humor e insônia
- Excesso de estrogênio ou testosterona, causando desequilíbrios hormonais
- Risco de alterações hepáticas, especialmente com doses altas e uso prolongado
Além disso, o DHEA pode interferir na ação de medicamentos importantes. Por exemplo:
– Pode reduzir a eficácia de medicamentos como tamoxifeno, anastrozol, letrozol, exemestano e fulvestranto, utilizados no tratamento de cânceres hormonossensíveis
– Pode diminuir o efeito da vacina contra tuberculose (BCG)
– Pode aumentar os efeitos de sedativos, como o triazolam, intensificando sonolência ou sedação
Contraindicações absolutas:
O DHEA não deve ser usado por pessoas com histórico de câncer de mama, próstata ou ovário, mulheres grávidas ou lactantes, e indivíduos com doenças hormonais não controladas.
Acompanhamento médico: a base para um uso seguro do DHEA
Embora o DHEA como terapia de reposição hormonal possa oferecer diversos benefícios à saúde, é fundamental que seu uso seja sempre orientado por um profissional. Nenhuma suplementação hormonal deve ser iniciada por conta própria. O primeiro passo é realizar exames laboratoriais completos e buscar acompanhamento de um endocrinologista ou médico especializado em longevidade e terapia de reposição hormonal.
Somente um profissional capacitado poderá:
- Avaliar se há deficiência real de DHEA no organismo
- Verificar os impactos do uso do hormônio sobre outros sistemas do corpo
- Prescrever a dosagem ideal para cada caso — com base em idade, sexo, histórico de saúde e estilo de vida
- Acompanhar os resultados ao longo do tempo, ajustando ou suspendendo o uso conforme necessário
O uso responsável do DHEA não só aumenta a segurança da terapia como também potencializa os resultados esperados, evitando desequilíbrios e efeitos colaterais indesejados.
Considerações finais
O DHEA como terapia de reposição hormonal é umas das possibilidades mais abrangentes, como ele é um precursor da maioria dos hromônios do nosso organismo, ele é uma opção mais completa e robusta — especialmente na fase adulta e durante o envelhecimento. Quando bem indicado, pode atuar como um modulador natural, contribuindo para a disposição, a saúde óssea, a libido e o bem-estar geral. Mas é essencial lembrar: por mais que seja vendido como suplemento em alguns países, o DHEA é um hormônio ativo. Seu uso exige critério, exames e acompanhamento médico. Não se trata de uma solução mágica, mas sim de um recurso que pode ser muito útil dentro de um plano de cuidado individualizado.
Referências:
- YANG, L. et al. The dose-response relationship of dehydroepiandrosterone (DHEA) supplementation and serum hormone levels: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Clinical Endocrinology, [S.l.], v. 94, n. 5, p. 718–726, 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33045358/. Acesso em: 25 maio 2025.
- LABRIE, F. et al. Effect of intravaginal dehydroepiandrosterone (Prasterone) on vaginal atrophy and sexual function in postmenopausal women: a review of the evidence. Climacteric, [S.l.], v. 12, n. 1, p. 53–62, 2009. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20089375/. Acesso em: 25 maio 2025.
- BAULIEU, E. E. et al. Dehydroepiandrosterone (DHEA), DHEA sulfate, and aging: Contribution of the DHEAge Study to a sociobiomedical issue. Proceedings of the National Academy of Sciences, [S.l.], v. 97, n. 8, p. 4279–4284, 2000. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9876338/. Acesso em: 25 maio 2025.